Vedete do inverno graças às combinações irresistíveis com massas e queijos, o vinho também pode ser personagem dos brindes de verão. A afirmação é de especialistas no ramo, que defendem até que a bebida pode ir à mesa como acompanhamento da feijoada, do acarajé e das sobremesas nos dias de calor.

"É do brasileiro essa ideia de que vinho é bebida para o frio. Na Europa ele é consumido regularmente", explica Carlos Cabral, consultor de vinhos do Grupo Pão de Açúcar. "Os espumantes e os frisantes italianos, como o Lambrusco, são os mais indicados para o verão. Mas o tinto também é delicioso, desde que esteja bem refrescado. Meia hora na porta da geladeira e basta", recomenda.

Os tintos, segundo Cabral, podem acompanhar as carnes, os risotos e os pratos com tempero marcante. "O ideal é deixar a bebida entre 15 e 18 graus e que durante a refeição a garrafa seja mantida em um balde com gelo", aconselha.

Vinho o ano todo

Quem compartilha da opinião é a sommelier María Laura Ortiz, da empresa argentina de consultoria de vinhos Winifera. "Na Argentina se bebe vinho durante todo o ano, só se muda os tipos consumidos. Tomamos mais espumantes e brancos no verão do que no resto do ano. Porém, segue-se bebendo vinho tinto por combinar maravilhosamente com a carne do nosso país".

Entre as indicações da sommelier para a estação estão os vinhos feitos a partir das uvas brancas como a sauvignon blanc, a pinot gris, a chardonnay e a torrontés. "A estas alternativas podem somar-se os vinhos rosados, que são feitos a partir de uvas que estiveram em contato recente com suas peles, que são as responsáveis pela cor. Não podemos esquecer os vinhos tintos leves, frescos, com boa acidez".

A acidez, inclusive, é o elemento primordial para a harmonização com os pratos mais gordurosos, que costumam fazer sucesso no verão. Caso da feijoada e do acarajé – a ser consumido por quem planeja passar o carnaval em Salvador, por exemplo.

Segundo o consultor de vinhos Rafael Puyau, autor do blog A Bebida dos Cinco Sentidos, os espumantes podem ser uma opção mais sofisticada. "Eles podem substituir a caipirinha, que é acompanhante mais tradicional. O espumante é uma bebida com bastante acidez, o que ajuda a quebrar um pouco a gordura desses pratos", explica.

María Laura recomenda outras combinações para a feijoada. "É um prato perfeito para ser acompanhado com vinhos tintos como Cabernet Sauvignon, Syrah, Petit Verdot ou vinhos de corte que foram envelhecidos em madeira, mas não perderam a sua estrutura", indica a sommelier. "Uma vez que os ingredientes da feijoada têm sabor e estrutura intensas e que o feijão preto vai derreter na boca formando uma película de gordura, pede-se harmonizar com um vinho tinto com elevada acidez. O sabor esfumaçado e defumado deste prato combinará perfeitamente com os vinhos onde seus principais aromas são picantes e terrosos".

Harmonizações

Peixes, frangos e saladas, os campeões de pedidos do verão por serem pratos leves, também podem ser acompanhados por vinhos refrescantes. No entanto, um dos primeiros elementos a ser observado são os molhos.

Os agridoces costumam cobrir peixes como o salmão, e os filés de frangos, que são carnes mais secas. Nesses casos, o mais indicado são os vinhos com alto teor de álcool. "Vinhos de regiões mais quentes, como Chile, sul da França, Califórnia e Austrália, são mais doces e na hora da fermentação a uva produz mais álcool", explica Puyau. "O moscatel, por exemplo, é leve e conta com essa estrutura mais adocicada".

Para as sobremesas, o consultor recomenda o Vinho do Porto. "Isso no caso de tortas de chocolate ou mousses, por exemplo", afirma Puyau. "Sorvetes e vinho não formam uma boa dupla. O gelado vai dar uma sensação anestésica nas papilas e isso faz com que o vinho desça como água", alerta.

Conselho unânime entre os especialistas, é que os vinhos mais típicos de verão – aqueles que serão consumidos à beira da piscina – sejam "jovens". "O consumidor deve observar se o espumante e o branco faz parte de uma safra recente. Esses vinhos têm uma curva de duração mais curta e é nos dois ou três anos que ele mantém sua acidez elevada e aroma forte", diz o consultor.