Com bolos inusitados, nova geração de confeiteiras inglesas não têm medo de chocar

ILANA REHAVIA

Colaboração para o UOL

Um dedo decepado, um bando de vermes ou um sangrento globo ocular não é o que normalmente se espera ver na cobertura de um bolo. Mas é exatamente isso que vem saindo do forno de uma nova geração de confeiteiras britânicas. Modernas, audaciosas e sem medo de chocar, elas levam temas mais comuns a pornográficos e de terror para o universo da culinária.

Vindas de universos como o design gráfico, publicidade e efeitos especiais, essas doceiras fazem parte de um movimento de resgate de atividades que antes consideradas antiquadas.  De alguns anos para cá, fazer bolo, tricotar ou costurar viraram passatempos comuns entre o povo moderninho da Europa. Para alguns, o que começa como hobby acaba indo além e virando ganha-pão.

Somente para maiores
É o caso da promotora Emma Lou, uma das figuras mais importantes nesse universo dos bolos subversivos mesmo sem chegar perto de um forno. Como indica seu nome artístico, Miss Cakehead (Senhorita Cabeça de Bolo, em tradução-livre) inventa conceitos que são então transformados em bolos pelas mãos de talentosas confeiteiras mais chegadas a uma cozinha.

Foi dela, por exemplo, a ideia de criar uma doceria temporária para coincidir com o Halloween, o Dia das Bruxas. Durante alguns dias em outubro do ano passado, a doceria Eat Your Heart Out & The Pretox Potion  transformou o porão de uma loja de  design em um calabouço onde nada era o que parecia ser. Cabeças cortadas, órgãos sexuais e feridas ensanguentadas revelavam açúcar, manteiga e chocolate a cada mordida. Só para maiores de 18 anos.

 "Diversão é a palavra chave", diz Emma. "Ao criar nossos próprios conceitos e lojas pop-up, a única coisa que nos restringe é nossa imaginação. Não esperamos uma encomenda criativa vir até nós, criamos nossas próprias encomendas."

Emma enveredou pelo mundo dos confeitos meio por acaso. Entediada com o antigo emprego de produtora de televisão, ela encontrou o canal perfeito para sua criatividade quando se envolveu com a promoção do evento Cake Britain, uma exposição de arte comestível realizada em 2010.

"Comer ou não comer?"
A confeiteira Holly Andrews trilhou um caminho parecido. Cansada de trabalhar em escritórios como designer gráfica, resolveu transformar a paixão pela cozinha em fonte de renda.

Hoje, ela produz belos bolos para festas e casamentos. Mas o que chama mesmo a atenção são suas criações mais extremas, como cupcakes na forma do órgão sexual feminino tão anatomicamente realistas que foram parar em um programa de televisão. E o bolo em forma de uma mulher com a garganta cortada em uma banheira ensanguentada, digno de um filme de terror. "Eu adoro fazer bolos que chocam as pessoas", conta.

A confeiteira Ellie Stuart também fica fascinada com a reação causada por seus bolos, como cupcakes infestados de vermes - feitos de pasta de açúcar - e olhos comestíveis - que levam biscoito e chocolate.

"As criações inspiradas em partes do corpo confundem as pessoas. Por um lado é um olho, mas por outro lado é um bolo. Elas ficam em dúvida se devem ou não  comer", conta Ellie.

Seus bolos geralmente começam como uma ideia, um desafio, como assá-los dentro de uma lata de refrigerante ou encontrar o ingrediente perfeito para recriar a consistência de sangue.  "Construo o bolo primeiro na minha cabeça e torço para que o plano funcione na vida real." O que nem sempre acontece, como Ellie descobriu ao tentar assar um bolo dentro de uma fruta. A grande vantagem é que no final, se nada der certo, ela pode comer seus erros.

Outra confeiteira chegada em uma ideia sangrenta é Louise Hill. Ela trabalhava como maquiadora de efeitos especiais para filmes e programas de TV, criando sangue cenográfico e criaturas assustadoras. Há dois anos, decidiu virar confeiteira. O gosto pelo mundo do terror veio junto e aparece em seus cupcakes em forma de machucados, línguas e orelhas decepadas.

"Eu amo escultura, mas queria fazer algo original e único com a arte, então larguei meu emprego e decidi esculpir bolos", conta ela, que sonha em um dia criar um bolo em forma do dinossauro Tiranosauro Rex, em tamanho real.

Autópsia comestível
O próximo projeto que promete agitar o mundo dos bolos subversivos, porém, é apenas para quem tem estômago forte. A ideia é criar a primeira autópsia comestível, realizada em um corpo anatomicamente correto feito de bolo.

Fruto da imaginação de Emma, a Miss Cakehead, a autópsia será conduzida por um patologista, e os órgãos examinados poderão ser saboreados pela plateia. Quem tiver coragem de dar uma mordida em um pedaço fígado ou coração terá uma doce e saborosa recompensa.

A renda do evento, ainda sem data marcada, será revertida para instituições de caridade. "Será o bolo mais extremo do mundo", promete ela.

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