Fora da cozinha, chefs deixam sofisticação de lado e se deliciam com comida de rua

ALEXANDRE STAUT

Colaboração para o UOL

Chef de restaurante estrelado, paladar popular. Nas horas de folga, em vez de se sentarem numa mesa à meia-luz, de uma casa grã-fina, com taça de cristal rodando nas mãos, alguns dos melhores profissionais da cozinha preferem lugares simples, onde comem pratos saborosos e com preço muito mais baixo do que em suas próprias casas.
 

 

Mestre no preparo do foie gras, o chef francês Erick Jacquin, da brasserie que leva seu nome -e um dos restaurantes mais sofisticados de São Paulo -é um dos adeptos da comida de boteco. Todos os sábados, ele convoca sua família para o Bar do Giba, onde tem uma mesa reservada, "até 15h30", conforme faz questão de remarcar.

Ambiente simples, comida caseira, gente falando alto nas mesas ao lado, bem diferente do clima solene da brasserie. Assim é este bar que conquistou um dos chefs mais festejados da cidade. "Há oito anos frequento este lugar", diz. "O que mais me atrai é que a comida feita com o coração", conta Jacquin, fã da feijoada, do caldinho de feijão e do arrumadinho servidos no local.

Carlos Bertolazzi, chef do Zena Caffé e do bufê C.U.C.I.N.A Gastronomia, é um craque no preparo de massas. Não tem gourmet na cidade que não salive ao pensar em seu nhoque. Mas pelo menos uma vez por semana ele deixa a cozinha do Zena para comer as massas feitas numa kombi –a Rolando Massinhas- estacionada em uma travessinha da Avenida Sumaré.

"O dono é uma figura. Apesar de as massas serem industrializadas, os pratos são caprichados", diz ele, que tem como preferência o Espaguete à Bolonhesa com Calabresa.

Rolando Vanucci, o cozinheiro da kombi, fica honrado ao receber o colega que tem uma "casa de nome" na cidade. "É um prazer saber que ele se desloca do seu próprio restaurante para comer aqui", diz Vanucci.

Ele, que abriu seu negócio há quatro anos, oferece 12 tipos de massas, entre elas, Nhoque de Batata ou de Mandioquinha e Fettuccini com Molho de Espinafre, entre outras, que custam, em média R$ 12,50.
 

Pastel e Ovo Mexido

No bairro dos Jardins, é comum ver cozinheiros uniformizados nas barraquinhas de pastel da feira que acontece às quintas-feiras na rua Barão de Capanema, lugar aliás, onde se encontram alguns dos melhores restaurantes da cidade.

É na barraca de pasteis Chinen que Paulo Kotzent, chef do Piselli, almoça com seu staff quase toda semana. "A massa é crocante, o pastel não tem gosto de óleo velho e os sabores são incríveis", afirma ele, que sempre pede o seu recheado de bacalhau.

Ao todo, são dez sabores, todos tradicionais e os pasteis custam R$ 3. São feitos por Kojirio e Akemi Chinen e seus três filhos, que, há 30 anos, montam sua barraca nas ruas de São Paulo.

"O que mais gosto é que os sabores são originais. Qualquer mudança iria descaracterizá-los", diz Kotzent. No entanto, se tivesse que sugerir um pastel gourmet para a barraca, não teria dúvidas: "Adoraria comer um de queijo taleggio com frutas", exemplifica, enquanto se delicia com um de frango com Catupiry, outro de seus preferidos.

Thomas Troisgros, chef do 66 Bistrô, no Rio de Janeiro, filho do conhecido chef apresentador Claude e neto de Pierre, paradigma da gastronomia mundial e um dos criadores da Nouvelle Cuisine francesa, também tem seu momento "baixa gastronomia".

Pelo menos uma vez por semana, ele visita o BB Lanches, sanduicheria popular que virou rede na cidade, tornando-se uma alternativa e tanto para os notívagos da zona sul, já que fica aberto até tarde.

Thomas sempre pede um pastel de forno assado na hora, que leva carne moída bem temperada e ovo cozido. "Também gosto dos hambúrgueres, do sanduíche de frango desfiado com ovo mexido e do suco de acerola", conta. Ali, é raro um sanduíche custar mais de R$ 10. 

Outra fã de comida de rua boa e barata na cidade é Roberta Ciasca, dos restaurantes Oui Oui e Miam Miam. Ela é cliente assídua da Carrocinha do Acarajé, na esquina da rua Capistrano de Abreu com a rua Marques, no Humaitá.

Sempre que encontra uma brecha, deixa sua cozinha e corre até o local, que fica ao lado do Oui Oui. "Tem dias em que estou chegando ao restaurante e ao fazer a curvinha da rua Marques encosto o carro e aguardo o óleo esquentar. Acabo comprando um acarajé da primeira leva", diz ela.

Roberta conta que a massa é leve, o vatapá é bom, o caruru melhor ainda e o vinagrete fresquinho. "Ah, e o tamanho é ótimo também, não suporto acarajé miudinho".

O quitute é feito pelo "seu" Santos, baiano de Itabuna, que monta sua carrocinha diariamente na mesma esquina, desde que se mudou para o Rio, há cinco anos.

Além do acarajé -que custa R$ 5- "seu" Santos vende também tapiocas e abarás, tudo saboroso e em conta. O segredo, segundo ele, são os ingredientes trazidos diretamente da Bahia por amigos.


VEJA A RECEITA DE PASTEL DE FRANGO COM CATUPIRY

VEJA A RECEITA DE ESPAGUETE À BOLONHESA COM CALABRESA

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