Hoje é dia do abacaxi, "fruta cheirosa" que virou "rei" na Europa

ANTONIO FARINACI

Colaboração pra o UOL

  • Thinkstock

    Abacaxi, fruta cujo nome em português deriva do tupi e quer dizer "fruta cheirosa"

    Abacaxi, fruta cujo nome em português deriva do tupi e quer dizer "fruta cheirosa"

Foi num dia 4 de novembro, no ano de 1493, que Cristóvão Colombo, então em sua segunda vinda à América, se deparou pela primeira vez com um abacaxi, de passagem pela ilha de Guadalupe, no Caribe. O fato aparece registrado no diário de bordo de sua expedição.

Na época, ninguém podia imaginar que a fruta viraria um sinônimo de "problema". Pelo contrário. Muito apreciada pelos nativos caribenhos, o abacaxi era utilizado como símbolo de hospitalidade, pendurado à entrada de suas aldeias. Os exploradores ficaram encantados com aquela fruta exuberante, de sabor e perfume marcantes, e a levaram para a Europa.

No Velho Mundo, o abacaxi virou motivo de pinturas e ornamentos arquitetônicos, e se tornou um símbolo de riqueza e alta posição social. Em Portugal foi chamado de "rei das frutas", na Inglaterra de "princesa". Artistas e ilustradores de botânica dos séculos 16 e 17, como Albert Eckhout, Frans Post e John Parkinson, "divulgaram" a fruta em suas obras e a transformaram em um símbolo por excelência dos trópicos.

Apesar de ter sido "descoberto" por Colombo no Caribe, o abacaxi é, na verdade, originário das regiões próximas ao rio Paraná, hoje repartidas entre o Brasil e o Paraguai. Seu nome em português deriva do tupi, e quer dizer "fruta cheirosa".

Levado para Portugal pelos primeiros colonizadores, foi logo tratado como uma iguaria de qualidades notáveis. Em 1561, carta do jesuíta Manuel da Nóbrega informa que potes de compota de abacaxi eram enviados da colônia à matriz como remédio para pedras nos rins.

  • Domínio Público/Wikimedia Commons

    O rei Carlos 2º recebe um abacaxi de seu jardineiro; pintura de Hendrik Danckerts (1675)

Foram necessários quase 200 anos de tentativas para se conseguir produzir abacaxi na Europa. Então, finalmente, como símbolo da abrangência de seu poder, o soberano britânico Carlos 2º se fez retratar, em 1675, recebendo de seu jardineiro real o primeiro abacaxi cultivado em solo inglês —uma conquista pioneira; a França, por exemplo, só teria seu primeiro abacaxi em 1733.

Nos elaborados pratos das cortes, o abacaxi logo encontrou seu lugar de destaque culinário, nem que fosse apenas como enfeite; e até o início do século 19, em continente europeu, a fruta continuou sendo uma iguaria rara e cara.

Hoje, como no Brasil, pode ser encontrado em supermercados da Europa quase o ano todo. Além de ser consumido "ao natural", cortado em fatias ou em suco, o abacaxi é muito utilizado em doces e compotas, mas também em comidas salgadas, em molhos agridoces. O suco da fruta é bastante utilizado em marinadas, por suas propriedades de amaciar carnes —especialmente em receitas asiáticas, com carne de porco e pato. No início dos anos 80, o abacaxi ganhou destaque com a famosa "dieta de Beverly Hills", que sugere o uso da fruta e de sua capacidade diurética para promover o emagrecimento.

A conotação de "trabalho árduo", "problemático" ou "desastroso" só surgiu no Brasil no início do século 20, provavelmente associada ao trabalho que dá remover a  folhagem espinhosa e a casca áspera da fruta. A partir do final dos anos 50, o apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha, consagrou a fruta em seu programa de TV, com o "troféu abacaxi", dado aos piores calouros.

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Bibliografia:
"Albert Eckhout Volta ao Brasil (1644 - 2002)", vários autores (Nationalmuseet, Copenhaguen, 2002)
"Dicionário Histórico das Palavras Portuguesas de Origem Tupi", Antônio Geraldo da Cunha (Ed. Melhoramentos, São Paulo, 1978)
"The Discovery of Guiana (and the Journal of the Second Voyage thereto)", de Walter Raleigh (Mershon Co., Nova York, 1893)
"Fruits of Warm Climates", de Julia F. Morton (Florida Flair Books, Boyton Beach, 1987)
"Larousse Gastronomique", Joël Rabouchon e outros (Larousse, Montreal, 2000)

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