Terceira maior feira de literatura do mundo, a Bienal do Livro de São Paulo terá pela primeira vez, nesta sua 21ª edição, uma programação especial dedicada a gastronomia. O "Cozinhando com Palavras", promoverá 40 oficinas de palestrantes brasileiros e do exterior e a participação de 13 restaurantes da cidade.

A feira começa no dia 12 de agosto, no Anhembi, mas já a partir desta segunda (9), os restaurantes embarcam na onda literária com cardápios de jantares que homenageiam escritores e livros que têm a comida como tema.

Na lista dos títulos e literatos celebrados em forma de menu, estão, entre outros, nomes como Jorge Amado, o criador do "Sítio do Pica Pau Amarelo" Monteiro Lobato, o poeta chileno Pablo Neruda e a escritora dinamarquesa Karen Blixen, autora de "A Festa Babette", romance que ficou célebre em sua adaptação cinematográfica.

Restaurantes
Coube a Renata Braune, do restaurante Le Chef Rouge, por exemplo, fazer a interpretação gastronômica de "Babette". "Meu amor por esse filme é antigo, e a organização do evento nem sabia disso. Eles me ofereceram o tema e eu aceitei na hora", conta Braune, que criou um cardápio baseado de perto no que a protagonista do romance serve em seu banquete, um dos mais memoráveis do cinema e da literatura.

"Fiz apenas algumas adaptações", explica a chef. "Hoje em dia, por exemplo, não se serve codorna com ossos, então preferi desossá-la e envolver num 'sarcófago' de Vol-au-Vent, para dar um aspecto mais bonito", adianta, sobre seu prato principal. "Troquei também a tartaruga por cavaquinha, na sopa de entrada, pois o sabor da tartaruga de cativeiro (autorizada pelo Ibama para consumo) não é tão bom. E, na sobremesa, servi o Kouglof, uma espécie de panetone francês, em forma de rabanada, porque é mais molhadinho, e tem mais a ver com o paladar brasileiro".

Se no Le Chef Rouge o que dá a tônica é a complexidade e pompa de um festim, no restaurante Lá da Venda, a palavra de ordem foi simplicidade, na criação de um cardápio que homenageia Cora Coralina.

"Muitas vezes, o que marca a gente é a lembrança carinhosa de um prato que se comia na infância, o feijão da avó, o bife que a tia fazia, aquela comidinha caipira", conta a chef Heloisa Bacellar, que baseou seu menu nas comidas favoritas da escritora goiana, poeta da vida cotidiana no interior do Brasil.

Foi Vicência, filha de Cora, que contou a Helô, por exemplo, que a escritora era louca por Pastelzinho Caipira, feito de farinha de milho e recheado com carne moída, que será servido como entrada.

De prato principal, a chef criou um Empadão Goiano, prato favorito de Cora, recheado com guariroba, frango desfiado, queijo fresco, azeitona e carne de porco. "Cora Coralina era uma poeta incrível, mas ganhou a vida como doceira", lembra a chef, "então, de sobremesa, não poderiam faltar Compota de Laranja da Terra e Ambrosia, que eram seus doces prediletos".

No cardápio, fechado, o cliente poderá escolher entre essas sobremesas, ambas servidos com queijo da Canastra, que Helô ressalta, "é o primeiro queijo brasileiro certificado".

Outro chef que se pautou pela simplicidade, foi Jefferson Rueda, do restaurante Pomodori, que teve como tema o best-seller "Comer, Rezar, Amar". "A cozinha italiana não tem truques nem artifícios", justifica ele. "Ela é direta, e é isso que deixa maravilhado quem come".

O cardápio, que reinterpreta pratos apreciados pela autora americana Elizabeth Gilbert em sua jornada pela Itália, traz de entrada uma Salada de Alcachofra, com folhas verdes e camarões; de prato principal, Espaguete Carbonara ou Risoto de Funghi Porcini com Escalope de Vitela à Milanesa; de sobremesa, Tiramissu. "Acrescentei o escalope ao risoto, porque no Brasil as pessoas gostam de ter uma proteína junto com o arroz", teoriza o chef.

Na Vinheria Percussi, é a sensualidade de "Afrodite: Contos, Receitas e Outros Afrodisíacos", de Isabel Allende, que dá o tom do cardápio. "Eu gosto muito desse livro, porque ele fala sobre a ligação que há entre a cozinha e o amor", conta a chef Silvia Percussi, que, em seu jantar temático, combinou pratos que já faziam parte do menu do restaurante.

"Eu já havia criado receitas baseadas nesse livro, para um 'Dia dos Namorados'. Desta vez, fui eu quem 'dei' as receitas para o livro", brinca Silvia. Quem comparecer ao restaurante, poderá experimentar, por exemplo, o Espaguete ao Molho Marinheiro (com vôngole). Em "Afrodite" esse prato é citado como uma iguaria em que todos os ingredientes são eróticos. "Avise seu amante antes de servir o molho", diz, no livro, a escritora chilena.

Workshops
A partir de 13 de agosto, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, uma "cozinha-show", montada especialmente para a Bienal, receberá 40 oficinas de chefs, críticos de gastronomia e blogueiros.

Entre os convidados, Claude Troisgros, Emmanuel Bassoleil e Laurent Suaudeau, que falam sobre suas experiências como chefs franceses radicados no Brasil; Raphael Despirite, do restaurante Marcel, fará uma demonstração de receitas que usam flores como ingredientes; o crítico de cinema Rubens Ewald Filho e a jornalista Nilu Lebert, especializada em gastronomia, recebem Hamilton Mellão para uma oficina sobre a sétima arte e cozinha. Veja no site oficial do evento a programação de palestras e oficinas que acontecem até 22 de agosto no Anhembi (horários e temas ainda sujeitos a confirmação).

Os jantares temáticos dos restaurantes no evento "Cozinhando com Palavras" acontecem de 9 a 22 de agosto. Antes de ir, é aconselhável ligar para o estabelecimento para confirmar se os pratos podem ser consumidos individualmente ou apenas dentro de um menu "fechado".

Veja abaixo a lista de casas participantes do evento e o cardápio que será oferecido.

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